Descrição enviada pela equipe de projeto. O escritório situa-se na região de Spitafields, no bairro de East End, da cidade de Londres, ao lado do alternativo mercado de Brick Lane. Possui um conceito de espaço de trabalho compartilhado (coworking space) para hospedar cerca de 30 empresas com um nível de alternatividade parecido ao bairro, de pequenas escalas e bastante relacionadas à tecnologia. A possibilidade de aluguel dos distintos escritórios é múltipla e muito elástica no tempo, variando de um posto individual de trabalho a um grande espaço comum onde cabem cerca de 75 pessoas, passando por estúdios para 5, 7, 10, ou até 20 pessoas.
Mas o mais importante no programa são os espaços comuns, que podem ser utilizados por quaisquer membros. Existem sete salas de reunião, vários espaços de descanso onde pode-se ler ou conversar, uma ampla zona de bar-cafeteria, onde o café é grátis e pode-se comer por cerca de 5 libras por dia, e uma zona mista de trabalhos-eventos onde a grande mesa de trabalho eleva-se para o teto deixando o espaço livre para qualquer atividade, desde yoga e pilates matutinos, até apresentações noturnas, festas, peças, conferências, cinema, etc.
Até o momento em que começamos a escrever esse texto, 21 de setembro de 2014, temos trabalhado com esse projeto num intenso e rapidíssimo processo, todo realizado em menos de 8 meses. Agora, com a construção iniciada e com o processo mais intenso (a obra teria que ser entregue em novembro daquele ano), conseguimos tirar um pequeno intervalo para uma reflexão sobre o projeto, seus motivos, necessidades e possíveis realidades ou virtudes. Entendemos que uma das primeiras perguntas que será feita por todos, inclusive nós mesmos, é o motivo do uso tão exagerado da curva, ou por que um espaço com uma ortogonalidade e uma trama simples de pilares acaba convertendo-se num espaço tão complexo e denso, fluido e contínuo?
A resposta a essa primeira pergunta é, na realidade, tão banal como todas as realidades: é puramente uma questão econômica. O próprio conceito de secondhome implicava a inevitável necessidade, bastante atingida finalmente, de ocupar, com pequenos espaços de trabalho, cada esquina e áreas banhadas pela luz do dia. Além disso, havia a necessidade de poder entrar em cada uma dessas diferentes áreas pelos extremos; com nenhum espaço desperdiçado, uma esquina que não servisse para algo, ou que não houvesse um ângulo onde alguém não pudesse sentar e trabalhar, conversar ou relaxar. Esse manejo da economia, em sua mais ampla e original acepção, até um limite máximo, é algo que sempre nos deixa muito tranquilos e satisfeitos com um dever cumprido, ainda que, por outro lado, a alta densidade que envolve essa completa ocupação e aproveitamento dos espaços ao limite, converte-se em uma das nossas maiores incógnitas sobre como realmente funcionará o futuro, com tantas pessoas trabalhando juntas em espaços muito concentrados.
Por isso, procuramos limitar esse possível caos e o labirinto que poderia provocar essa situação de complexidade, com dois truques: primeiro com uma permanente fluidez visual e física de todo o conjunto, que evita a sensação de estar perdido ou fechado em algum local; e segundo com um total controle da acústica, onde colaboram carpetes e tetos absorventes, mas também a forma curva contínua que propaga o som em todas as direções. Além disso, ao empregar essa continuidade como antídoto da densidade, são atingidas reações secundárias que fazem aumentar a força de todo o espaço, tornando-o uma totalidade, algo único e unido, parecendo maior do que realmente é. E essa é exatamente nossa dúvida nesses dias: Será que permanecerá realmente assim no final? Será um espaço em que a transparência e as reflexões acabem simplificando-se ou complexificando-se tanto que se consiga abrir o espaço e fazê-lo infinito e muito acolhedor ao mesmo tempo? E, mais importante, acabará se atingindo um espaço em que a arquitetura acabe dissolvida num ar caseiro? Essa foi justamente o pedido dos idealizadores do projeto, Sam e Rohan, no início: Um escritório como uma casa? Ou uma casa como um escritório?
"Daqui cinco a dez anos todos vamos trabalhar de casa. Mas aí precisaremos de casas maiores, grandes o suficiente para serem usadas para reuniões. E escritórios serão convertidos em habitações". Rem Koolhaas, The Generic City 1994